quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Florescendo no meu altar!






Essa é a minha 35ª primavera – não é a primeira vez que eu floresço. Aliás, acho que em poucas épocas desses 35 anos eu deixei de florescer.


Mas confesso que floresci poucas vezes para mim mesma – isso eu demorei aprender.


Sempre fui expert em colecionar afetos, em fazer rir, em entreter. Por outro lado, falhei muito na relação comigo mesma. 


Por muitos solstícios e equinócios eu busquei fora o que estava dentro. Sentia-me constantemente, no lugar errado, na hora errada.


Procurei a completude nos relacionamentos, procurei a felicidade nos amigos, procurei segurança no trabalho.


Eu vivia em posição de reivindicação, por vezes verdadeira mendicância.


Um dia, então, eu identifiquei o mecanismo pelo qual eu garantia a continuidade dos meus relacionamentos: permissividade excessiva, complacência.


Eu aceitava tudo, permitia tudo, engolia tudo. 


Isso tornava muito vantajoso estar comigo, pois não havia falha que não pudesse ser relevada.


Mas e eu? Como será que eu me sentia forjando relacionamentos?


A verdade é que não havia relacionamentos, até eu conhecer a pessoa mais importante da minha vida: a Talita.


Ela desejava ser vista. Como desejava!


Ela fervilhava dentro de mim e eu pensava: meu Deus, se eu der ouvidos a ela, a minha vida vai ao chão.


E foi. E o chão era delicioso com ela.


Pouco a pouco tudo deixou de existir: todos os conceitos, todas as certezas, todas as convenções sociais.


Então eu passei a conhecer os relacionamentos, em um campo em que não há obrigações ou garantias.


Então eu passei a conhecer as pessoas e o que elas apresentavam para mim a cada dia – e, garanto, as pessoas mudam! Relacionar-se com rótulos ou pré-concepções é assistir mil vezes o mesmo filme, ou, quem sabe, nem assistir, mas apenas ler a crítica.


Então eu passei a ser grata pelo amor que eu recebia a cada dia, sem me preocupar se amanhã retornaria.


Então eu aprendi a ouvir o que as pessoas falavam, sem tentar interpretar e adequar aos meus medos, traumas ou vontades. Sim é sim. Não é não.


Desde então, inclusive no inverno, eu sou uma casa cheia de flores.


Ainda que você não veja flores em mim.


Ainda que não sinta o meu perfume.


Ainda que não conheça o meu jardim.


Floresço.


Floresço para ela e ela para mim.


Embelezo o meu templo com amor próprio, com confiança, com segurança, com leveza, com paz, com espontaneidade.


Olhe-se e encontre a sua criança.


Ela já cansou de brincar de esconde-esconde.

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